O anúncio publicado pela Philip Morris como uma “resolução de ano novo” em alguns jornais do Reino Unido mexeu com os nervos de produtores rurais do interior do Rio Grande Sul. Philip Morris vai deixar de vender cigarro no Reino Unido, onde há, segundo a companhia, 7,6 milhões de fumantes.
A iniciativa confirma o que vem sendo divulgado por seus principais executivos nos últimos anos: a maior fabricante de cigarros do mundo não quer mais depender desse produto para se manter de pé. Em seu site, a Philip Morris classifica a decisão como “dramática” e afirma que será “muito mais do que uma empresa líder de cigarros. Estamos construindo o futuro com produtos sem fumo que são uma escolha muito melhor do que o tabagismo”.
A gigantesca empresa de cigarros retirou anúncios de páginas inteiras em vários jornais britânicos. A empresa também promete apoiar programas locais de abandono de tabagismo em áreas com as maiores taxas de tabagismo e pedir permissão para inserir informações sobre alternativas de baixo risco em pacotes de cigarros.
“Nós acreditamos que temos um papel importante a desempenhar para ajudar o Reino Unido a se tornar livre do fumo”, escreveu o diretor-gerente do PMI, Peter Nixon, em uma carta.
Philip Morris versão eletrônica


Como alternativa ao cigarro tradicional, a companhia, dona das marcas Malboro e L&M, vem tentando avançar com uma versão eletrônica que, em vez de fumaça, libera vapor. O iQOS (pronuncia-se “aicos”) precisa de apenas 25% da quantidade de tabaco de um cigarro para o mesmo efeito.
Em vez de usar nicotina líquida, como os cigarros eletrônicos comuns, esse acessório aquece varetas de tabaco (chamadas de “heets”) a uma temperatura alta o suficiente para criar vapor em vez de fumaça. O aparelho já tem seu uso liberado em vários países, mas no Brasil ainda depende de aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
A procura por novos consumidores desse tipo de produto tem provocado uma espécie de disputa paralela entre os gigantes do setor: a própria Philip Morris, a British American Tobacco, com o Glo, e a Japan Tobacco International, com o Ploom Tech.
Preocupação entre os produtores brasileiros de tabaco
Romeu Schneider, presidente da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Tabaco junto ao Ministério da Agricultura, diz que a notícia sobre a Philip Morris no Reino Unido preocupa os produtores brasileiros.
Atualmente, 88% da produção de tabaco do país tem como destino o mercado internacional. Mas o executivo acredita que ainda seja preciso fazer uma avaliação mais detalhada dos possíveis efeitos dessa decisão.
“Pode ser que os consumidores dos cigarros da Philip Morris procurem marcas de outros fabricantes, pode ser que comprem no mercado paralelo ou importem, ainda é prematuro dizer o que vai acontecer”, avalia.
Por ora, Schneider acredita que as alternativas ao cigarro, como as versões eletrônicas, podem afetar mais a produção brasileira. “É fácil entender. Um produto como o iQOS leva de 25% a 30% da quantidade de tabaco de um cigarro normal. É como se o consumo caísse um quarto do que é hoje. Imagine como isso pode impactar no cultivo brasileiro no futuro”, diz o executivo.
Professor de gestão de marcas dos cursos de pós-graduação da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM-SP), Marcos Bedendo explica que a decisão da Philip Morris de abandonar o cigarro foi tomada há muito tempo e é baseada no fato de essa ser uma indústria que vai deixar de existir.
“No curto espaço de tempo a estratégia é mudar o portfólio com alternativas ao cigarro, como o modelo eletrônico, mas não é de hoje que a empresa vem procurando diversificar também os setores em que atua”, diz o especialista.